A postectomia, que é a retirada cirúrgica do excesso de prepúcio, é um dos procedimentos mais realizados em cirurgia pediátrica. A sua indicação principal é a ocorrência de fimose que é a incapacidade de retrair a pele do prepúcio expondo a glande com facilidade, mas também pode estar indicada quando a criança tem um excesso significativo do prepúcio e mesmo por motivos culturais.
É um procedimento realizado sob anestesia geral em regime de hospital dia, com a criança internando de manhã e tendo alta à tarde. Comparativamente às outras cirurgias, é considerado um procedimento simples, mas passível de complicações como qualquer cirurgia. Pode ser realizado através da ressecção do prepúcio após a colocação de um anel plástico que envolve a glande (plastibell) ou com a sutura da pele no local da ressecção. Cada um desses métodos tem sua indicação que depende principalmente da idade da criança e da experiência pessoal do cirurgião, mas os resultados e a incidência de complicações são similares.
O principal problema da postectomia é o desconforto que algumas crianças apresentam no pós operatório que não pode ser considerado uma complicação, mas inerente ao procedimento. As complicações propriamente ditas podem ser divididas em precoces e tardias. Dentre as precoces, que podem ocorrer até um mês depois da cirurgia, as mais frequentes são os sangramentos, as infecções locais e os problemas relacionados ao anel plástico usado em alguns casos. Dentre as tardias, temos a estenose do meato uretral, a recidiva da fimose, a ocorrência de aderências entre o prepúcio e a glande e as queixas sobre sensibilidade no local.
Os sangramentos , na maioria das vezes, são discretos e acabam melhorando espontaneamente. Alguns casos, porém, precisarão de uma revisão da hemostasia que será feita no centro cirúrgico com anestesia geral. As infecções costumam responder bem aos cuidados locais mas, eventualmente, necessitam de antibiótico sistêmico. Quanto aos problemas relacionados ao plastibell, que costuma cair espontaneamente depois de cerca de duas semanas, pode ocorrer o encarceramento da glande através do anel que precisará ser retirado também com anestesia geral.
A complicação tardia mais temida é a estenose do meato uretral. A exposição da glande depois da cirurgia acarreta o aparecimento de lesões na mesma pelo contato com as roupas que geralmente cicatrizam sem maiores problemas. Quando, porém, essas lesões comprometem o meato uretral, pode ocorrer uma estenose do mesmo o que fará com que a criança precise fazer força para urinar ficando o jato urinário muito fino. Nesses casos será necessária a realização de uma cirurgia, a meatotomia, ou às vezes, sessões de dilatação da estenose.
A recidiva da fimose pode ocorrer naqueles casos em que, intencionalmente ou não, se deixa um pouco mais do prepúcio. Na dependência de fatores individuais, o processo de cicatrização pode implicar na recidiva da fimose. Isso é mais comum em crianças obesas e que apresentam o pênis embutido.
A ocorrência de aderências entre o prepúcio e a glande é frequente no pós operatório das postectomias. Inicialmente, não causam dor e costumam resolver espontaneamente com o crescimento da criança. Em alguns casos, porém, pontes cicatricias podem aparecer entre a pele e o prepúcio que não se romperão sozinhas e que precisarão ser desfeitas cirurgicamente.
O problema da sensibilidade na glande varia de criança para criança. É comum, após a cirurgia, uma sensação de desconforto que nem sempre pode ser definida como dor e que se intensifica na hora do banho. Essa queixa diminui progressivamente e após algum tempo deixa de incomodar a criança. O extremo oposto, que seria a perda da sensibilidade na glande, não é relatado pelas crianças menores, mas pode ser um problema para os adolescentes.
Embora seja uma cirugia realizada com frequência e de forma bastante segura, a postectomia pode apresentar essas e outras complicações no pós operatório o que precisa ficar bem claro antes da realização do procedimento.
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Até breve.
Referência:
Postectomia: complicações pós-operatórias necessitando reintervenção cirúrgica
DOI: 10.1590/S1679-45082018AO4241