SINAIS DE ALERTA NA ADENOMEGALIA PERIFÉRICA DA CRIANÇA: QUANDO BIOPSIAR?

As afecções dos gânglios linfáticos, na faixa etária pediátrica, são bastante prevalentes. Na maioria dos casos, trata-se de uma situação aguda e autolimitada que não requer tratamento. Porém, sempre que ocorre um aumento no tamanho dos gânglios, pais e pediatras preocupam-se  com a possibilidade que  tal alteração esteja associada à neoplasias. O presente texto tem por finalidade dirimir as dúvidas e tentar facilitar o raciocínio em relação a indicação de biópsia nos casos de adenomegalias periféricas na criança.

A maioria das crianças, desde o momento que vão para os berçários, são expostas a uma série  de infeções virais e bacterianas o que faz  com 38% – 45%  delas, mesmo quando saudáveis, apresentem gânglios palpáveis (1). A região cervical é o local mais frequentemente acometido e um gânglio será considerado aumentado se apresentar mais que 1 cm de diâmetro na região cervical ou axilar e 1,5 cm na região inguinal (2).

A causa mais frequente de adenomegalia são as infecções virais normalmente associada a um desconforto local e que regride após alguns dias. Nos casos em que a evolução sugere uma causa bacteriana (unilateral, eritema cutâneo, dor, calor local e febre) a terapêutica antibiótica empírica deve ser prescrita e na dependência da evolução, a formação de abscesso com a necessidade de drenagem deve ser considerada.

Já as neoplasia mais frequentemente associadas com adenomegalias são o Linfoma de Hodgkin, Linfoma não Hodgkin, neuroblastoma, leucemia e rabdomiosarcoma. São aspectos das adenomegalias que sugerem a possibilidade de uma neoplasia (2,3);

–  idade: crianças maiores que 10 anos; 

  • localização: linfonodos supraclaviculares ou aqueles no triângulo posterior (atrás ou lateral ao músculo esternocleidomastóideo); presença de adenomegalia em outras cadeias linfáticas; 
  • características à palpação: gânglios de consistência dura, firme ou borrachenta; gânglios maiores que 2 cm ou conglomerado de gânglios que formam massa; ausência de mobilidade; gânglios indolores à palpação e sem outros sinais de inflamação;
  • evolução: gânglios que apresentam aumento persistente por mais de duas semanas ou  sem diminuição do tamanho após quatro a seis semanas; 
  • sinais de acometimento sistêmico: queda do estado geral; perda de peso; sudorese noturna; hepato e esplenomegalia;
  • alteração dos exames complementares: alterações do hemograma em especial plaquetopenia ou plaquetose; Rx de tórax com alargamento de mediastino;  ultrassonografia evidenciando gânglios arredondados e não ovalados como habitualmente e com alterações da arquitetura ou vascularização;

Levando-se em consideração essas características, pode-se construir o fluxograma  a seguir para acompanhamento das adenomegalias:

Figura retirada de Michalowski et al 2012 (3)

O padrão ouro para confirmar ou afastar o diagnóstico de neoplasia é a retirada completa do maior e mais acessível dos gânglios acometidos, a biópsia excisional. Mas, na dependência de detalhes técnicos, a retirada parcial desse gânglio, biópsia incisional, pode ser suficiente. A punção aspirativa com agulha fina, embora possa fornecer informações diagnósticas importantes, normalmente não é realizada nas crianças pelo risco de não fornecer material suficiente para o exame e pela possibilidade de resultados falso negativos além de, na maioria dos casos, requererem anestesia geral. É importante ressaltar que uma única biópsia pode não fornecer uma resposta definitiva sobre a etiologia da adenomegalia e que essas crianças devem ter a sua evolução  acompanhada.  

A realização da biópsia é um procedimento frequentemente seguro, entretanto algumas complicações como sangramento e infecção, além dos riscos da anestesia  geral devem ser levadas em consideração. Apesar disso e muito embora na maioria das vezes o resultado dessas biópsias mostre tratar-se apenas de hiperplasia linfoide reacional, os casos duvidosos devem ser prontamente encaminhados para avaliação do cirurgião pediátrico evitando-se com isso a demora no diagnóstico das crianças com neoplasias  e  todas as suas graves consequências.

Bibliografia

1. Niedzielska G, Kotowski M, Niedzielski A, et al. Cervical lymphadenopathy in children: incidence and diagnostic management. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2007;71:51–56. doi: 10.1016/j.ijporl.2006.08.024.

2. de Campos Vieira Abib S, Chui CH, Cox S, Abdelhafeez AH, Fernandez-Pineda I, Elgendy A, Karpelowsky J et al. International Society of Paediatric Surgical Oncology (IPSO) Surgical Practice Guidelines. Ecancermedicalscience. 2022 Feb 17;16:1356. doi: 10.3332/ecancer.2022.1356. PMID: 35510137; PMCID: PMC9023308.

3. Michalowski MB, Lorea CF, Rech A, Santiago P, Lorenzoni M, Taniguchi A, et al. Diagnóstico precoce em oncologia pediátrica: uma urgência médica. Bol Cient Pediatr. 2012;01 (1):13-18.

Evaluation and Management of Neck Masses in Children

JEREMY D. MEIER, MD, and JOHANNES FREDRIK GRIMMER, MD 

University of Utah School of Medicine, Salt Lake City, Utah 

– Uma massa (nódulo ou tumoração)* no pescoço em uma criança raramente é maligna

– Um trabalho publicado mostrou que 44% das crianças menores de cinco anos apresentavam linfonodos palpáveis, sugerindo que a linfadenopatia benigna é comum nessa população

História e Exame Físico

– Massas cervicais em crianças, normalmente, se enquadram em uma das três categorias: congênita, inflamatória ou neoplásica

Evolução

– Uma massa presente desde o nascimento ou descoberta durante o período neonatal é geralmente benigna. As malformações vasculares estão presentes no nascimento e crescem com a criança, enquanto os hemangiomas se desenvolvem algumas semanas após o nascimento e têm uma fase de crescimento rápido

– Uma massa de crescimento rápido geralmente é inflamatória. Se a massa persistir por seis semanas ou aumentar após a antibioticoterapia inicial, deve-se considerar a possibilidade de neoplasia

– Uma massa que aumenta lentamente ao longo de meses ou anos sugere uma lesão benigna, como lipomas, fibromas ou neurofibromas

Sintomas Associados 

– Febre, aumento rápido, dor ou eritema indicam uma provável etiologia inflamatória. A maioria das massas cervicais malignas em crianças são assintomáticas e não são dolorosas

Localização

– As massas císticas mais comuns na linha média são o cisto do ducto tireoglosso e o cisto dermóide

– As massas congênitas na face lateral do pescoço incluem as anomalias das fendas branquiais, as malformações vasculares ou linfáticas

– Os linfonodos supraclaviculares ou aqueles no triângulo posterior (atrás ou lateral ao músculo esternocleidomastóideo) têm uma maior incidência de malignidade do que os linfonodos no triângulo anterior (anterior ou medial ao músculo esternocleidomastóideo)

Palpação

– A presença de vários linfonodos pequenos no pescoço, geralmente,  corresponde a uma linfadenopatia reativa a uma infecção do trato respiratório superior. Uma massa dura e irregular ou uma massa firme ou elástica que é imóvel ou fixa aos tecidos profundos do pescoço, pode indicar malignidade

Tamanho

– Os linfonodos cervicais de até 1 cm de tamanho são normais em crianças menores de 12 anos

– Linfonodos aumentados, persistentes,  maiores que 2 cm que não respondem à terapia antibiótica empírica devem ser avaliados para possível biópsia

Exames Laboratoriais

– O hemograma completo é recomendado em pacientes com história e exame físico sugestivos de infecção ou malignidade

– Caso haja exposição recente a gatos, está indicada a realização de sorologia para Bartonella henselae

– Sorologias para Epstein-Barr, citomegalovírus, vírus da imunodeficiência humana e toxoplasmose também devem ser consideradas se a história sugerir possível exposição ou se a massa, presumidamente, inflamatória não estiver respondendo aos antibióticos

– A ultrassonografia é o exame de imagem inicial preferido

– A ultrassonografia é um exame relativamente rápido e barato que evita a radiação e ajuda a definir o tamanho, consistência (sólido vs. cístico), forma, vascularização e localização da massa

– A ultrassonografia deve ser realizada quando houver suspeita de um cisto do ducto tireoglosso para determinar a presença de uma glândula tireóide normal

– A punção aspirativa com agulha fina pode fornecer informações diagnósticas importantes e evitar a necessidade de biópsia aberta. A sensibilidade dessa punção em crianças, geralmente, é maior que 90% e a especificidade é de aproximadamente 85%. No entanto, normalmente, as crianças necessitam de anestesia geral para realização desse procedimento

Tratamento Inicial e Encaminhamento

– A observação inicial é recomendada para crianças com linfadenite cervical bilateral

– O tratamento empírico com antibióticos deve ser considerado para pacientes com linfadenite cervical se eles apresentarem sintomas sistêmicos (por exemplo, febre, calafrios), linfadenopatia unilateral, ou eritema e dor, ou se os linfonodos forem maiores que 2 a 3 cm

– O tratamento por 10 dias com  cefalexina, amoxicilina / clavulanato ou clindamicina é recomendado, porque os organismos mais comuns são Staphylococcus aureus e estreptococos do grupo A

– Crianças com massas congênitas no pescoço devem ser encaminhadas para um especialista para considerar a excisão definitiva

– Pacientes com abscesso cervical que não responde à antibioticoterapia oral devem ser internados para uso de antibiótico intravenoso e possível incisão e drenagem

– Caso haja suspeita de malignidade (consistência dura, firme ou borrachenta; massa fixa; massa supraclavicular; linfonodo maior que 2 cm de diâmetro; aumento persistente por mais de duas semanas; sem diminuição do tamanho após quatro a seis semanas; ausência de inflamação; ulceração; falha em responder à terapia antibiótica; ou uma massa na tireoide), o paciente deve ser encaminhado para um cirurgião pediátrico para avaliação urgente e possível biópsia

– Uma lesão assintomática que parece ser um linfonodo aumentado cria um dilema difícil para o pediatra. Normalmente, o paciente ou cuidador fica ansioso por um diagnóstico e uma intervenção. A maioria dos casos de linfadenopatia é autolimitada e requer apenas observação e paciência. Os linfonodos aumentados que são elásticos, firmes, imóveis ou que persistem por mais de seis semanas ou aumentam durante um curso de antibióticos devem ser avaliados por um cirurgião pediatrico e uma biópsia é recomendada.

*o termo massa pode corresponder a um nódulo (lesão menor que 3 cm) ou a uma tumoração (lesão maior que 3 cm)